Lisboa foi escolhida entre mais de 150 cidades mundiais como um dos “21 Lugares do Futuro”, segundo um estudo que será divulgado hoje e que foi levado a cabo pela Cognizant, uma empresa norte-americana de serviços de tecnologia e processos de negócio. A capital portuguesa é ainda uma das três cidades europeias que chegaram à lista final.
“Lisboa cotou bastante bem em termos da qualidade das suas infraestruturas – infraestruturas físicas, transportes, aeroporto, etc. -, cotou bastante bem ao nível da proteção do meio ambiente, muitíssimo bem na oferta em termos de cultura e entretenimento, e uma coisa a que nós chamámos de bricks e que tem que ver com o património arquitetónico, novas construções, a revitalização e a reestruturação da arquitetura, e também o que nós chamámos de “pool de talento” e na capacidade que Lisboa tem hoje para atrair talento de outros países e de outras regiões”, explica ao DN Maximino Gouveia, responsável máximo da Cognizant em Portugal, acrescentando ainda outros fatores: “Também o custo de vida, o clima, que é sobejamente conhecido de todos, fez que Lisboa cotasse bastante bem dentro desta lista, em que para nós o ponto que é de sublinhar é de facto a capacidade que Lisboa tem hoje na atração de talento vindo de fora.”
Mas afinal o que define um lugar do futuro? “Existem obviamente já lugares como Londres, Sydney, São Francisco, Nova Iorque, etc., que já são os lugares do presente, onde a capacidade de atrair investimento e de atrair talento é já bastante evidente. Os lugares do futuro são aqueles que a Cognizant considera que têm características para que no futuro – embora isso já aconteça neste momento, apesar de numa escala menor – sejam lugares que fundamentalmente atraiam talento, atraiam inovação, em função das características que eles próprios apresentam. E Lisboa, de facto, é um desses lugares”, acrescenta o mesmo responsável.
A capital portuguesa, apesar da distinção e do seu papel de destaque entre as cidades europeias, tem ainda aspetos a melhorar. “Há áreas que têm efetivamente de melhorar. Nomeadamente, ao nível da equidade em termos de rendimentos entre as classes mais baixas e as classes médias e altas. Não cotou tão bem, por exemplo, em termos da diversidade e inclusão, nomeadamente, do ponto de vista da justiça racial. Não cotou tão bem na duração média nos diversos níveis de ensino. No estilo de vida, curiosamente, foi onde Lisboa cotou mais baixo, e houve quatro elementos que contribuíram para isso. Um deles tem que ver com o tempo de deslocação entre casa e trabalho. Mas penso que ainda há aqui um espaço bastante importante para que Lisboa possa recuperar”, prossegue Maximino Gouveia.
Tempo de deslocação entre casa e trabalho, a desigualdade salarial ou a inclusão racial são aspetos a melhorar para tornar a capital mais apetecível.
Outro aspeto, segundo este responsável da Cognizant, que Lisboa ainda precisa de melhorar é a capacidade de atração de investimento estrangeiro. “Porque em termos da atração de startups no mercado português, quer nacionais quer estrangeiras, Lisboa está bem posicionada. E não só. No período pré-pandemia, assistimos durante os quatro, cinco, seis anos anteriores a um conjunto de empresas multinacionais que estabeleceram em Lisboa os seus centros de desenvolvimento digital e isso é um sinónimo de que efetivamente Lisboa é um ponto de atração também para as grandes empresas”.
Do espaço virtual ao sideral
Telavive, São Paulo, Wellington, Toronto, Atlanta, Sacramento, Portland, Kochi, Songdo, Shenzhen, Pequim (o bairro de Haidian), Nairobi, Lagos, Da Nang e as europeias Lisboa, Dundee e Talin são as 17 cidades escolhidas para fazerem parte do grupo dos “21 Lugares do Futuro”, depois de avaliadas por critérios como governo local, qualidade das universidades, acesso a capital privado, infraestruturas, segurança, oferta cultural, custo de vida, entre outros.
Na opinião de Maximino Gouveia, há uma região que se destaca nos resultados deste estudo: os Estados Unidos, que conseguiram colocar três cidades na lista, o mesmo número que a Europa. “Os Estados Unidos, com o peso que têm na economia mundial, possuem outro posicionamento ao nível da capacidade de inovação, da própria gestão do governo local, etc., que sobressai. Penso que a Europa terá ainda algum trabalho a fazer nesta área, mas iremos certamente lá chegar. Aliás, notei que na sexta-feira o nosso primeiro-ministro fez um anúncio sobre o lançamento de uma plataforma que se chama Aliança das Nações Europeias para o Empreendedorismo, e que terá sede em Lisboa. Este anúncio, do ponto de vista da Europa e de Portugal, é muito importante, porque este organismo visa estimular o investimento e reforçar a marca europeia, evitando a fuga de empreendedores para outras geografias, atraindo e retendo talento. Este, por exemplo, é um caso prático que espero que venha a ter sucesso.”
Também considerados locais do futuro estão quatro lugares sem nenhuma localização específica: Remotopia, Espaço Virtual, Espaço Sideral e Nova Hanseática. “A Cognizant já anteriormente tinha lançado um conceito chamado de Remotopia, ou seja, o trabalho remoto, que foi obviamente acelerado com a pandemia. O espaço virtual é outro e que tem que ver com a utilização das novas tecnologias, como a realidade virtual, a realidade aumentada, a inteligência artificial, e que permite às pessoas colaborarem dentro de um ambiente virtual. Depois existe um terceiro, que tem que ver com o espaço sideral e que obviamente será uma realidade, penso eu, dentro de três ou quatro décadas, em função dos avanços que os Estados Unidos, a China e, de uma determinada forma, a própria União Europeia têm feito na exploração do espaço sideral, nomeadamente com a viagem a Marte, os projetos de colocação de uma base na Lua, etc. O último é um conceito relacionado com a colaboração entre cidades da mesma região e a criação de um ecossistema de empreendedorismo que passa para lá da gestão dos governos locais. E isso, de alguma forma, já está a verificar-se em algumas zonas, nomeadamente no norte da Europa”, garante Maximino Gouveia.
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