DN.PT
Em Portugal, o peso do emprego gerado direta e indiretamente por negócios de plataformas digitais deverá ser já um dos mais elevados num conjunto de 14 países europeus, quase 11% do total, segundo um estudo pioneiro do Joint Research Centre (JRC), da Comissão Europeia (CE).
Estamos a falar de negócios como Uber, UberEats, Glovo, Cabify, Taxify, Zomato, Booking, Airbnb, mas também pode envolver centros de contacto e retalhistas comerciais com presença virtual (supermercados, lojas de roupa e calçado e de artigos eletrónicos, por exemplo).
Uns empregam diretamente os seus trabalhadores, mas parte da estatística também conta com aqueles que trabalham com a marca (usam a plataforma) e ganham dinheiro com isso. É o caso dos proprietários de alojamentos locais.
Segundo os inquéritos conduzidos pelo serviço de ciência da Comissão Europeia, 10,6% da população adulta em Portugal poderá estar envolvida de forma mais profunda e ter uma dependência financeiramente relevante deste tipo de atividades.
A média dos 14 países analisados deu 9,7% do emprego adulto a nível europeu. O líder do ranking é o Reino Unido, com 12% do total do emprego adulto classificado como dependente de plataformas digitais, integrando a chamada “economia colaborativa” ou “economia da partilha”.
A mesma fonte confirma que “existem diferenças significativas entre países: o Reino Unido tem a maior incidência de trabalhos de plataforma. Outros países com valores relativamente elevados são a Alemanha, Países Baixos, Espanha, Portugal e Itália”.
“Já a Finlândia, Suécia, França, Hungria e Eslováquia apresentam valores muito baixos em comparação com o resto”, acrescenta.
Perfil destes trabalhadores
Quem são estas pessoas? Que tipo de relação têm com as plataformas? Trabalham diretamente para a marca ou são fornecedores de algum tipo de serviço via aplicações, sites de internet ou apoio digital/telefónico?
Segundo explica o JRC, primeiro procurou-se saber junto dos inquiridos “se ganharam algum tipo de rendimento das diferentes fontes online“. Os investigadores consideram “trabalhadores principais das plataformas aqueles que ganham 50% ou mais do seu rendimento através das plataformas e/ou de trabalho prestado via plataformas e durante mais de 20 horas semanais”.
Portanto, esse trabalho ou prestação de serviço corresponde, no mínimo, a um regime a tempo parcial, considerando que uma semana normal e completa de trabalho pode ter uma média de 40 horas.
Neste universo, “há dois tipos de trabalho”. Os que “oferecem serviços através das plataformas online, onde o contacto com os clientes é digital, o pagamento é eletrónico e via plataforma e o trabalho é realizado na rede”, independentemente de onde esteja o cliente.
Na segunda modalidade é tudo igual, com a exceção de que “o trabalho é realizado no local”, ou seja, também há contacto físico. É o caso do alojamento local e de curta duração ou dos serviços de aluguer de transporte privado.
Os casos mais conhecidos
A Uber, que tem um historial de polémicas devido a tensões com o negócio do táxi tradicional, é uma operação de dimensão razoável a nível nacional, continua em forte expansão e comporta diversas camadas de emprego.
Segundo um estudo pedido à consultora Deloitte e disponibilizado pela própria Uber portuguesa, só em Lisboa a Uber “contribuiu para a criação de cerca de 5300 oportunidades de trabalho”. Destes, cerca de 3700 são motoristas. O estudo adianta ainda que há “potencial de duplicação” dos postos de trabalho entre 2018 e 2020, e aponta para “mais de 4800” empregos.
O centro tecnológico da Uber empregava cerca de 60 pessoas (em princípio, empregos mais qualificados) em 2017. Além de Lisboa, a rede opera no Porto e no Algarve.
Entretanto, no final de 2017, arrancaram as entregas de refeições em casa (UberEats), que já dá trabalho a dezenas de pessoas que se deslocam sobretudo de mota ou de bicicleta.
Além disso, segundo o próprio diretor-geral da Uber para Portugal e Espanha, Rui Bento, a empresa decidiu abrir o “centro de excelência para a Europa em Lisboa, onde serão criados até 250 empregos diretos até 2018”.
Com a Uber concorrem, entre outras, a Cabify e a Taxify (que começou em Portugal neste ano e diz ter uma rede de pelo menos 600 motoristas).
A chegada em força da internet e do turismo
Segundo informações oficiais, a gigante Google também vai abrir um centro tecnológico em Oeiras, onde pode empregar até 500 técnicos “qualificados”. A Amazon, outra gigante da internet (grande distribuição), tem planos para abrir um centro no Porto.
No negócio de reservas e classificação de restaurantes e bares, existe a Zomato, que emprega diretamente, na sede de Lisboa, cerca de 40 pessoas. A rede The Fork (do grupo Tripadvisor) também já tem uma base na capital.
E, quanto a entregas de comida em casa, sabe-se que a UberEats, Glovo e Sendeat podem ganhar um novo concorrente nos próximos meses: os supermercados Pingo Doce também estão a analisar o conceito.
Seja devido à explosão do turismo, decisivo para a expansão das redes de alojamento como o Airbnb e de serviços como o Booking, Tripadvisor ou Trivago, seja pelo uso crescente da internet e de smartphones, os negócios e as plataformas online prometem continuar em expansão.
Dados obtidos pelo Dinheiro Vivo indicam que no mercado do alojamento local de Lisboa existirão quase 6300 anfitriões ativos, gerindo um total de 12,2 mil alojamentos (casas inteiras, quartos privados e quartos partilhados).
O número de alojamentos é o dobro do número de anfitriões, porque há pessoas que exploram mais do que uma casa e há empresas que exploram prédios inteiros ou mesmo vários, sobretudo nos centros históricos.
Atualmente, no Porto acontece algo semelhante. Há três mil anfitriões a faturar com o alojamento local, explorando um total de 6,6 mil casas e/ou quartos.
Por fim, mas não menos importante, os call centers (centros de contacto para atendimento aos clientes), negócios que assentam em plataformas digitais e cujo número de colaboradores, segundo a Associação Portuguesa de Contact Centers (APCC), que congrega 72 empresas do setor, ronda as 81,6 mil pessoas, atualmente.
“Lisboa e Porto concentram 80% do negócio de contact centers” e “Lisboa possui a maioria, com 64% das empresas baseadas na capital”. Nesta atividade, “há empresas em todos os distritos” do país, diz a APCC.
FONTE Luís Reis Ribeiro DN.PT
FOTO © Nuno Brites/Global Imagens