Nos dias em que viveu na África do Sul escapado das autoridades, João Rendeiro andou de cidade em cidade, vivendo em hotéis de luxo, “não tinha disfarce” — o próprio disse que não usava “peruca ou rabo-de-cavalo” para esconder a calvície –, mas andava “muito escondido”. “Tem grande disponibilidade económica, que facilita muito a mobilidade”, descreveu o diretor nacional da PJ, Luís Neves, que anunciou a detenção do ex-presidente do BPP este sábado em Durban.
Usava meios de comunicação tecnologicamente avançados, que encriptam os dados e “custam uma exorbitância”, para passar sem ser localizado. Foi assim que fez na entrevista à CNN Portugal há três semanas. Mas a Polícia Judiciária portuguesa e as autoridades sul-africanas tinham-no na mira este tempo todo
Segundo o diretor nacional da PJ, Rendeiro “reagiu surpreso porque não estava à espera” de ter a polícia sul-africana à sua frente nas primeiras horas do dia no luxuoso ForestBoutique Guest House, numa localidade à beira da praia a 20 quilómetros de Durban, quando foi detido. Estava de pijama. Segue-se agora um processo de extradição nos tribunais do país.
O antigo presidente do BPP fugiu das autoridades nacionais em setembro, para não cumprir três penas de prisão efetivas, uma das quais já transitou em julgado.
No início daquele mês, Rendeiro informou a Justiça portuguesa que ia a Londres, mas a 28 anunciou que não regressaria para cumprir pena. Segundo a PJ, já não estava na capital britânica por esta altura. Tinha abandonado o Reino Unido a 14 e dado entrada na África do Sul a 18 — onde apenas obteve autorização de residência a 10 de novembro, após um investimento — espécie de visto Gold.
“Logo que tivemos notícia em setembro que a fuga estava a ocorrer, foi emitida uma ‘notícia vermelha’ e os mandados internacionais. Detetámos a saída desta pessoa em 14 de setembro do Reino Unido e temos a perceção por onde passou até chegar à África do Sul”, relatou o diretor nacional da PJ.
João Rendeiro morou durante algum tempo “na zona mais rica de Joanesburgo”, que fica a cerca de 560 quilómetros a norte de Durban, onde foi detido este sábado. Em Joanesburgo as autoridades obtiveram “documentos que mostraram o estilo de vida” do ex-banqueiro na fuga. “Era o local habitual de refúgio, vivia em hotéis de luxo, mas deambulou por outros locais para inviabilizar” a captura, explicou o dirigente da PJ.
“Não tinha disfarce, mas tinha muitos cuidados e não circulava livremente, por sua intenção, no país”, contou Luís Neves. O diretor nacional da PJ acredita que a “fuga foi preparada durante meses”.
Rendeiro “não teve deslizes”. Aliás, “utilizou meios tecnologicamente mais avançados e custam uma exorbitância para poder comunicar de forma indetetável”. Foi desta forma que concedeu uma entrevista à CNN Portugal que foi transmitida a 22 de novembro. “Fê-lo de forma encriptada com meios que não estão ao dispor de forma fácil”.
Nessa entrevista, Rendeiro transmitiu a ideia de que que fazia uma vida “perfeitamente normal, tal como fazia em Lisboa ou Cascais”, e que não usava “peruca ou rabo-de-cavalo” para tentar passar despercebido, apesar de ser procurado internacionalmente. Vivia com 4 mil ou 5 mil euros por mês e ia ao ginásio e fazia praia. Apesar desta normalidade aparente, o diretor nacional da PJ contou o ex-banqueiro fazia “uma vida muito escondida” para não dar nas vistas.
Na semana dessa entrevista, a PJ estava em reuniões com os altos dirigentes policiais da África do Sul, de acordo com Luís Neves. “Explicamos o quão importante e o quão grave tinham sido os crimes cometidos por esta pessoa”, disse. Daí foram precisas mais três semanas até alcançar o antigo presidente do BPP.
FONTE ALBERTO TEXEIRA