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Nacional

“Ainda fará algum sentido a NATO?”

Um artigo de opinião assinado por Dantas Rodrigues, socio-partner da Dantas Rodrigues & Associados.

“O fim da Segunda Guerra Mundial trouxe um período de tensão e hostilidades entre o poder comunista soviético e o poder capitalista norte-americano. Moscovo estendeu a sua influência a toda a Europa de Berlim para Leste e Washington estendeu toda a sua influência de Berlim para Oeste, influência essa que rapidamente se propagou ao então chamado mundo ocidental. Como disse Winston Churchill em 1946, a Europa ficou separada por uma ‘cortina de ferro’, no que seria contrariado em 1959 por Charles de Gaulle ao preconizar, num seu célebre discurso em Estrasburgo, ‘uma Europa do Atlântico aos Urais’, verdadeiro preâmbulo para o futuro abandono da estrutura militar da NATO pela França em 1966, pela recusa de ver a França ‘autenticamente implicada numa guerra’.

Foi devido a antagonismos insuperáveis, já evidenciados pelas potências vencedoras em Ialta na Crimeira (1945), que a Guerra Fria começou a ganhar forma. De facto, em 1949, os EUA, o Canadá e mais dez países europeus, entre os quais Portugal, fundaram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN, ou NATO, no seu acrónimo anglo-saxónico), por vezes apenas chamada Aliança Atlântica, uma organização militar então destinada a responder a possíveis ataques movidos pela União Soviética.

Em 1952, o primeiro secretário-geral da Aliança, Hasting Ismay, já fixara como seu objetivo primordial ‘manter a Rússia fora, os EUA dentro e a Alemanha por baixo’, o que motivou como resposta, logo em 1955, a emergência internacional do máximo dirigente soviético Nikita Khrushchev (um homem que Estaline sempre maltratara), que desenhou e criou o Pacto de Varsóvia, denominado Tratado de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua, uma união militar entre os países do Leste Europeu, a fim de equilibrar o poderio da NATO.

No início a estratégia do Pacto de Varsóvia mostrou-se defensiva, sustentada por um exército convencional, com enorme predominância de tropas russas. Nessa altura ainda se estava longe da corrida aos armamentos nucleares. Após a morte de Estaline (5 de março de 1953) e a subida ao poder de Nikita Khrushchev (14 de setembro de 1953), Moscovo reformulou a sua política militar, e preparou-se para ataques capazes de provocar elevadas baixas aos seus inimigos. O cérebro dessa estratégia ofensiva, de comando militar único para a coordenação dos distintos exércitos leste europeus, foi o comandante-chefe das forças militares russas Ivan Stepanovitch Koniev, herói da Segunda Guerra Mundial.

Os dirigentes soviéticos tomaram sempre decisões de estratégia militar sem consultar os seus parceiros, e as suas ações mais repressivas seriam levadas a cabo em 1956, para castigar as manifestações populares na Hungria e da Polónia, e, em 1968, na Checoslováquia, por ocasião da célebre revolta que ficou mundialmente conhecida por ‘Primavera de Praga’. Era a doutrina da ‘Segurança do Socialismo’, de Leonid Brejnev, sucessor (mas não seguidor) de Nikita Khrushchev. A União Soviética arrogava-se o direito de intervir em qualquer país para proteger o socialismo sempre que este estivesse em perigo.

A mudança na política internacional da URSS dar-se-ia só na segunda metade dos anos 80 com a renúncia de Mikhail Gorbatchev, novo secretário-geral do Partido Comunista, em intervir militarmente no estrangeiro. Aos poucos o bloco do Leste foi-se esboroando, a Guerra Fria passou a deixar de fazer sentido e o Pacto de Varsóvia, tal como o Muro de Berlim, derruiu estrondosamente em 1991.

A conjuntura geoestratégia mundial se apresenta hoje bem diferente da que existia na segunda metade do século passado. Por isso, fará algum sentido a existência da NATO?

A NATO parece pertencer mais ao passado do que ao futuro. Já não dispõe da chamada gratidão da História. A França, a Alemanha e até a Espanha, não consideram os EUA um parceiro de confiança, visível na Estratégia Global da UE, plano de segurança e de defesa, onde se prevê a autonomia estratégia da Europa, e o fortalecimento da sua componente de defesa.

Os objetivos da Europa são, cada vez menos, os mesmos dos EUA. A NATO, deixou de ser uma organização militar transatlântica para se transformar numa organização mais preocupada em salvaguardar os interesses económicos norte-americanos no mundo, levando consigo, à pendura, os europeus.

Aproximamo-nos, a olhos vistos, do conceito de Leonid Brejnev, e do direito de intervir em qualquer país para proteger interesses de conveniência. Foi o Iraque em 2003 e o caos que trouxe a todo o Médio Oriente, a seguir foi a Guerra da Líbia e a subsequente incapacidade em enfrentar o gravíssimo problema do terrorismo islâmico, depois foi a retirada das forças militares americanas da região da Síria controlada pelos curdos, o que acabou por abrir caminho a uma ofensiva da Turquia e, por fim, a retirada sem honra nem glória do Afeganistão. Tudo isto aconteceu sem consultar militarmente os parceiros europeus, já que os altos comandos operacionais e estratégicos foram sempre designados por Washington. Mas como em política nunca há inocentes, os mesmos europeus, também por evidentes razões de cariz económico, nunca deixaram de estar profundamente envolvidos nas mesmas guerras dos norte-americanos. Eu decido eu faço e mando é a regra vigente.

Aparentemente, talvez faça algum sentido voltar-se à ideia da Comunidade Europeia de Defesa, consignada no Tratado de Paris de 1951, no qual se instituiu a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), e cujos países fundadores foram a Bélgica, a França, a República Federal da Alemanha, o Luxemburgo e os Países Baixos.

Se a Europa quer preservar a democracia, fazer frente ao terrorismo internacional, controlar os fluxos migratórios associados ao terrorismo, impor leis próprias para as mudanças climáticas e um pacto ecológico, e estabelecer acordos internacionais para o fim das armas de destruição maciça. Avance-se então para a Comunidade Europeia de Defesa.

Em tempos em que o comunismo é meramente residual, e do bipolarismo do pós-Guerra se passou ao atual tripolarismo mundial, onde a Europa ocidental desfruta de cada vez menor importância política e militar, ainda fará algum sentido a NATO?”

Fonte
noticiasaominuto.com
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