Identificadas 44 variantes genéticas ligadas à depressão

Estudo publicado na Nature Genetics abre caminhos a novos tratamentos. Metade dos doentes não respondem aos remédios atuais

Um megaestudo internacional que passou em revista dados do genoma de quase 500 mil pessoas identificou um total de 44 variantes genéticas associadas ao risco de depressão, das quais 30 eram até agora completamente desconhecidas, e que, segundo os cientistas, abrem portas à identificação de novos alvos terapêuticos. A descoberta permite agora, também, delinear novos estudos para tentar compreender mais em detalhe que tipo de interação entre os fatores genéticos e ambientais são responsáveis por desencadear esta doença.

“São muitos genes, o que quer dizer que a depressão não é uma doença única. É importante esclarecer que tipos de depressão existem”, destacou ao DN o psiquiatra Joaquim Cerejeira, ressalvando que não conhece os resultados da investigação.

No estudo que publicou ontem na revista Nature Genetics, a equipa, que envolveu mais de 200 cientistas do Psychiatric Genomics Consortium, e que foi liderada pelas universidades de Queensland, na Austrália, e da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, explica que todas as pessoas têm no seu genoma pelo menos alguns destes fatores genéticos de risco para a depressão. Uma certeza, pelo menos, existe: a depressão é uma doença muito comum, que afeta cerca de 350 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo a segunda principal causa de absentismo no trabalho. Na prática, cerca de 14% das pessoas sofrem de depressão em algum momento da sua vida e nas situações mais graves, de depressão profunda, metade dos pacientes não responde aos tratamentos.

Face a este panorama, os novos dados ontem publicados assumem uma importância que pode ser decisiva para o futuro do diagnóstico e do tratamento da doença, como acreditam os cientistas.

“Este estudo vai mudar a forma como lidamos com o problema da depressão”, garantiu Patrick Sullivan, da Universidade da Carolina de Norte, e um dos líderes da investigação. “Foi difícil chegar aqui, ao conhecimento da base genética da depressão, mas agora temos esse conhecimento e com a realização de novos trabalhos, a partir daqui, deveremos conseguir desenvolver formas de tratar e, inclusivamente, de prevenir a depressão grave”, sublinhou aquele investigador.

Atualmente, apenas cerca de metade das pessoas que sofrem de depressão respondem bem aos tratamentos disponíveis, e a expectativa dos autores do estudo é que os novos dados possam abrir em breve novos caminhos para desenvolver outras abordagens terapêuticas mais eficazes nos casos em que as existentes não são a resposta adequada. Como sublinha outra das autoras do estudo, Cathryn Lewis, do King”s College, de Londres, “precisamos de compreender como a genética e os fatores ambientais de stress se combinam entre si para aumentar o risco de depressão”.

Ao DN, Joaquim Cerejeira, professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, frisou que “esta descoberta ajuda a perceber a base biológica da doença”, ou seja, “sabe-se que há genes que alteram a composição química do cérebro e a maneira como as pessoas lidam com as adversidades”. Isto permite, prossegue, “chegar a tratamentos mais dirigidos e específicos”, já que, atualmente, “o tratamento é inespecífico”. “Agora damos antidepressivos inespecíficos. Há doentes que melhoram, outros não. Fazemos várias tentativas, tratamentos às cegas.”

Um dos dados novos que os resultados mostram é o de que a base genética da depressão coincide em parte com a de outras perturbações psiquiátricas, como a doença bipolar e a esquizofrenia, mas também com outros problemas como a obesidade, as perturbações do sono e a fadiga crónica.

Joaquim Cerejeira reforça que “há, efetivamente, sobreposição com outras patologias. Uma pessoa com diabetes ou doença bipolar, por exemplo, tem mais risco de sofrer de depressão”.

Fonte da Notícia
Diário de Notícias
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