Eleições locais trazem alívio para Theresa May

Partido Conservador e Trabalhista sem muitas razões para celebrar. Resultado evita, ou adia, desafio imediato à liderança da primeira-ministra.

A expectativa de que o Partido Trabalhista poderia conseguir roubar algumas das “jóias da coroa” eleitorais do Partido Conservador não foi confirmada nas eleições locais de Inglaterra de quinta-feira, e o facto de os Conservadores terem evitado uma derrota deixa a primeira-ministra, Theresa May, menos sujeita a uma revolta dentro do seu partido.

Na média de percentagem de votos no total de lugares em disputa (mais de 4300 em 150 círculos eleitorais) ambos os partidos obtiveram cerca de 35%. A principal conclusão da eleição, para o jornal Politico, é que dois anos após o referendo, o “Brexit” ainda domina a política britânica, mesmo em eleições locais, e que a forte divisão do país não se atenuou.

Os trabalhistas obtiveram bons resultados em cidades grandes, onde o “não” à sída do Reino Unido da UE foi forte no referendo de há dois anos. Mas apesar de terem conseguido o seu melhor resultado em Londres desde 1971, não ganharam bastiões conservadores, como os municípios de Wandsworth e Westminster, na capital.

“O Labour pensou que poderia voltar a ter o controlo [de Wandsworth], era uma das suas prioridades e tentaram tudo o que era possível, mas não conseguiram”, congratulou-se Theresa May, de visita a Wandsworth esta sexta-feira.

Os conservadores ganharam sobretudo votos vindos do UKIP, o Partido para a Independência do Reino Unido, que está a sofrer uma crise de liderança após ter conseguido o seu objectivo de um “sim” no referendo ao “Brexit” de 2016.

“Os resultados são um alívio para May e para o Partido Conservador porque sugerem que, apesar do facto de os Conservadores estarem numa guerra civil intermitente por causa do ‘Brexit’, os problemas do Partido Trabalhista são, possivelmente, piores”, comentou à Reuters Tony Travers, professor na London School of Economics.

O líder do Labour, Jeremy Corbyn, foi muito criticado pelo modo como geriu acusações de anti-semitismo no partido (um inquérito interno avaliou que há “um ambiente por vezes tóxico” de anti-semitismo, e a relatora admitiu que nem todas as recomendações foram concretizadas). Esse foi o motivo visto para o partido perder o círculo de Barnet, norte de Londres, que tem a maior população judaica de um município britânico.

“O Labour terá de conseguir muito, muito melhor do que isto em eleições locais no futuro para poder dizer que está a convencer o eleitorado de um modo mais geral”, comentou ainda Travers.

Já Jeremy Corbyn afirmou que a culpa foi das expectativas altas – na eleição anterior de 2017, antecipada por May, o partido conseguiu muito melhor do que o esperado. Desta vez, aconteceu o contrário. “Ficámos a um fio de conseguir Wandsworth”, notou, e garantiu que o partido está pronto para eleições “em qualquer altura”.

Quanto a May, “ainda que não tenha sido um desastre, estes resultados confirmam que já passou o seu ponto alto, ainda que já soubéssemos isso das eleições legislativas”, comentou Faisal Islam, editor de política da Sky News. “Para os tories há um sentimento de alívio, e não de esperança”, resume a editora de política da BBC, Laura Kuenssberg.

Mas, diz Faisal Islam, “a ausência de boas notícias não significa necessariamente que haja boas notícias”, e a preocupação mais imediata para May será agora “que os críticos do plano para o ‘Brexit’ dentro do partido, que estiveram quietos até depois da votação, deverão agora preparar-se para lutar”.

maria.joao.guimaraes@publico.pt

Fonte da Notícia
PUBLICO.PT
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