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Descoberto o ‘Santo Grall’ da biotecnologia: proteína repara ADN e pode levar a uma vacina contra o cancro Por Francisco Laranjeira

Os investigadores da Western University, no Canadá, descobriram uma proteína que tem a capacidade nunca antes vista de impedir danos no ADN: esta descoberta entusiasmou a comunidade científica e poderá lançar as bases para o desenvolvimento de tudo, desde vacinas contra o cancro a culturas que podem resistir às condições cada vez mais adversas provocadas pelas alterações climáticas.

Os cientistas encontraram uma proteína, denominada ‘DdrC’ (de DNA Damage Repair Protein), numa bactérias bastante comum conhecida como ‘Deinococcus radiodurans’, que tem a capacidade invulgar de sobreviver a condições que danificam o ADN, como, por exemplo a radiação. De acordo com o investigador principal, Robert Szabla, o Deinococcus é também excelente na reparação de ADN que já foi danificado.

“É como um jogador da NFL que joga todos os jogos sem capacete ou protetores”, referiu Szabla, estudante de licenciatura no Departamento de Bioquímica da Western. “Acabava com uma concussão e vários ossos partidos em todas as partidas, mas recuperava milagrosamente totalmente durante a noite, a tempo de treinar no dia seguinte.” Neste processo de reparação, a equipa de especialistas apontou que DdrC é um elemento-chave.

Cada célula possui um mecanismo de reparação do ADN para corrigir os danos. “Numa célula humana, se houver mais de duas quebras em todo o genoma de mil milhões de pares de bases, não se consegue reparar e morre”, diz. “Mas no caso do DdrC, esta proteína única ajuda a célula a reparar centenas de fragmentos de ADN e a transformá-los num genoma coerente.” O estudo foi publicado na revista ‘Nucleic Acids Research’.

O DdrC procura quebras no ADN e, quando deteta uma, fecha-se como uma ratoeira. Esta ação de captura tem duas funções principais: “Neutraliza os danos no ADN e previne danos maiores na quebra. E funciona como um pequeno farol molecular. Diz à célula: ‘Por aqui, há danos. Venha arranjar isso.’”

Normalmente, salientou Szabla, as proteínas formam redes complexas que lhes permitem desempenhar uma função: o DdrC parece ser algo fora do comum, pois desempenha a sua função por conta própria, sem necessidade de outras proteínas. A equipa de especialistas chegou a testá-lo com outra bactéria diferente: a E.coli. “Para nossa grande surpresa, isto tornou as bactérias mais de 40 vezes mais resistentes aos danos da radiação UV”, explicou. “Este parece ser um raro exemplo em que se tem uma proteína e ela é realmente como uma máquina autónoma.”

Eem teoria, este gene poderia ser introduzido em qualquer organismo – plantas, animais, humanos – e deveria aumentar a eficiência da reparação do ADN das células desse organismo. “A capacidade de reorganizar, editar e manipular o ADN de formas específicas é o ‘Santo Graal’ da biotecnologia”, referiu Szabla. “E se tivesse um sistema de varrimento como o DdrC que patrulhasse as suas células e neutralizasse os danos quando estes ocorressem? Isto poderá constituir a base de uma potencial vacina contra o cancro.”

A equipa de cientistas está apenas a começar a estudar o Deinococcus. “A DdrC é apenas uma das centenas de proteínas potencialmente úteis nesta bactéria. O próximo passo é escavar mais fundo, para ver o que mais esta célula utiliza para reparar o seu próprio genoma, porque certamente encontraremos muito mais ferramentas que não temos ideia de como funcionam ou como serão úteis até as investigarmos”, concluiu.

Fonte
https://executivedigest.sapo.pt
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