Como Berardo deu a “golpada” aos bancos

Em 2016, depois de ter chegado a um acordo com os principais bancos credores, Joe Berardo alterou os estatutos da sua associação. A SÁBADO revela os documentos.

 

FOTOFoi em 2016 que, após terem negociado um acordo para o pagamento da dívida, que os três bancos credores do comendador – Caixa Geral de Depósitos, Millennium BCP e Novo Banco – se aperceberam que o que Joe Berardo tinha dado como penhor, afinal, não podia ser penhorado.

À época, o acordo incidiu sobre os títulos de participação na Associação Colecção Berardo, a proprietária da vasta colecção de arte contemporânea do empresário. Porém, a 22 de abril de 2016, já depois do acordo, a Assembleia Geral da Associação reuniu sem a presença dos bancos e procedeu a uma alteração dos estatutos, ficando a constar na “nova” versão que a decisão de entrega dos títulos de participação como colateral ou penhor tinha que ser ratificada pela própria Assembleia Geral.

Seis meses depois, os bancos, apercebendo-se da “manobra” e invocando a sua qualidade de credores com direitos especiais, promoveram uma nova Assembleia Geral com o objectivo de “reverter” as alterações feitas a 22 de Abril de 2016, sobretudo retirando dos estatutos a prerrogativa do “consentimento” dado à Assembleia Geral para a transmissão “a qualquer título” dos títulos de participação da colecção. 

Isto mesmo foi revelado pela SÁBADO em fevereiro deste ano, na investigação “O grande assalto à Caixa Geral de Depósitos”.

Esta sexta-feira, na Comissão Parlamentar de Inquérito à Caixa Geral de Depósitos, Joe Berardo, a dada altura reconheceu: “O que eu estou a tentar é proteger a coleção” – a mesma que tinha dado indiretamente como penhor. E atirou: com a alteração dos estatutos “não podem ser transferidos os títulos para terceiros sem coordenarem connosco”. Só podem vender, “desde que a gente concorde”. Ou seja: a banca tinha recebido a coleção como penhor, mas depois foi fintada com uma “manobra de secretaria”, como lhe chamou um dos deputados.

Esta admissão foi sendo feita em paralelo com o estilo de Berardo. O comendador teve sempre ao lado o seu advogado e não respondeu a quase nada – incluindo perguntas básicas sobre as suas instituições – sem que André Luiz Gomes lhe ditasse a resposta. A preponderância do advogado foi de tal forma assumida que a certa altura fez um desenho numa folha para Berardo poder responder sobre o que eram as suas empresas – noutra dirigiu-se a um deputado do PS, criticando-o pela forma como estava a interrogar o seu cliente (foi barrado pelo presidente da mesa).

Berardo tem um perfil mediático elevado – deu uma entrevista ao programa de Goucha na TVI e mostrou o seu palácio da Bacalhoa – mas não quis que a audição fosse transmitida pela televisão. Os repórteres de imagem tiveram de sair, mas o presidente da mesa não aceitou o pedido totalmente e permitiu a transmissão da audição pelo canal do Parlamento, invocando o interesse público. O advogado contestou dizendo que não respeitava o direito à imagem do seu cliente.

Mas o pior dano para a imagem de Berardo veio dele próprio. A certa altura afirmou “eu pessoalmente não tenho dívidas” – referindo-se ao facto de formalmente não estarem em seu nome – deixando a sala com ar de espanto e a deputada Mariana Mortágua a abanar os braços em tom de incompreensão. Minutos depois, quando o deputado do PSD Duarte Marques lhe atirou que os seus empréstimos tinham custado “uma pipa de massa a muita gente”, Berardo respondeu logo “A mim não!”. Algumas vezes deixava escapar que está em controlo de tudo – “a minha coleção” – mas depois corrigia.

FONTE  Carlos Rodrigues Lima e Bruno Faria Lopes sabado.pt

FOTO LUSA.PT


 

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SABADO.PT
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