Amanhecer às 9.00? O que significa ficar sempre na hora de verão? E vai mesmo acontecer?

A comissão Europeia vai propor o fim da mudança da hora, mas esta abolição, a confirmar-se, só deverá entrar em vigor em 2020 ou 2021

Imagine um cenário em que chegamos a 28 de outubro e não atrasamos o relógio, como está previsto e tem acontecido nas últimas décadas, ficando na hora de verão, como agora propõe a Comissão Europeia. O que vai acontecer?

Nos dias mais curtos do ano, em dezembro e janeiro, o nascer do sol vai acontecer apenas às 8.55, bem perto das nove da manhã. Em compensação, no inverno o sol deixará de se pôr antes das 18, já que o mais cedo que vai desaparecer do horizonte é às 18.14.

 

Para o especialista em medicina do sono Joaquim Moita, isto seria preocupante sobretudo para as crianças e adolescentes, que passariam a acordar e a ir para as aulas ainda de noite. “Se acabar a hora de inverno, entre os meses de novembro e janeiro iremos estar às 08:15 ainda com noite escura”, avisa o especialista.

Atualmente, com a mudança para o horário de inverno, os dias em que o sol nasce mais tarde é às 7.55. Por outro lado, também se põe às 17.15 no início de dezembro – isto tendo em conta a hora de Portugal continental.

Em Portugal, segundo dados da Comissão Europeia, 85% das 34 mil pessoas que votaram escolheram parar com as mudanças. Uma vez que o inquérito era sobre o horário de verão a ideia é ficar para sempre neste horário. Mas, segundo o El País, Holanda, Dinamarca, Finlândia e República Checa, ou quem votou nesses países, demonstrou a vontade de manter o horário de inverno.

Ora isto, menos provável, significaria mudar de hora em outubro, mas não voltar a mudar em março. As alterações seriam mais dramáticas nos meses de verão: em junho haveria dias com o sol a nascer às 5.11 e nunca haveria pores-do-sol depois das 21, o máximo seria às 20.04.

Os anos da experiência de 1992 a 1996

Em Portugal, a última tentativa de mexer nos horários aconteceu entre 1992 e 1996: nesses quatro anos a hora continuou a mudar, mas o País adotou a hora da Europa Central, seguindo o meridiano de Berlim. A decisão foi do Executivo de Cavaco Silva e o objetivo era acertar relógios com os nossos parceiros europeus, favorecendo os negócios. No entanto, o desfasamento em relação ao tempo solar era tão grande – chegava a duas horas e meia – que as pessoas estranharam. O Governo de António Guterres não perdeu muito tempo antes de voltar ao Tempo Médio de Greenwich (GMT), em 1996.

Perante estas opções, o que vai acontecer realmente?

A consulta pública sobre a mudança da hora foi, em parte, uma tentativa de mudar a ideia de que a UE é uma coisa longínqua e burocrática que não se preocupa com os assuntos que realmente preocupam as pessoas no seu dia-a-dia.

Para mudar isso, o Parlamento Europeu, que vai a eleições em maio de 2019, decidiu a 8 de fevereiro deste ano pedir a realização e uma consulta pública. A Comissão Europeia, como já fez no passado para outros temas, lançou a consulta online. A votação esteve aberta aos 511 milhões de habitantes dos 28 países da UE até 16 de agosto.

Os resultados parciais foram agora conhecidos e os finais são esperados nas próximas semanas. O resultado da votação não era vinculativo e a Comissão Europeia não tinha a obrigação de pegar nele para propor uma alteração das regras comunitárias que regulam os fusos horários. Mas decidiu fazê-lo. Quem o confirmou foi o presidente da instituição comunitária Jean-Claude Juncker.

A proposta legislativa que vier a ser apresentada pela Comissão terá que ser analisada pelo Parlamento e pelo Conselho Europeu por maioria. Esta instituição é, na verdade, a mais poderosa, pois é composta pelos governos dos 28 Estados membros.

Escolha de fuso horário depende do país

Em entrevista à ZDF, Juncker indicou que irá propor optar-se pela hora de verão, mas fontes da Comissão, citadas pelo jornal espanhol El País, precisaram que a decisão caberá a cada país: a fixação da hora é uma competência nacional e não comunitária.

Apesar de se ir procurar sempre uma posição comum, para não perturbar até o funcionamento do mercado interno europeu, o certo é que os países se comprometeriam a não mudar a hora, mas a escolha do fuso horário cabe a cada um.

A comissária europeia dos Transportes, Violeta Buc, calcula que a abolição da mudança da hora possa entrar em vigor em 2020 ou 2021, se não houver entraves nos trâmites. E aqui entram mais uma vez em jogo o peso da burocracia e diferenças políticas entre os vários Estados membros.

Assim não será ainda possível acabar com a mudança da hora já a 28 de outubro: nesse dia o relógio atrasa 60 minutos e às três da manhã serão, afinal, duas da manhã.

FONTE Patrícia Jesus e Patrícia Viegas DN.PT

FOTO © REUTERS/Michaela Rehle

Fonte da Notícia
DN.PT
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